How to measure a planet?

Publicado 05/07/2010 por hit map
Categorias: Críticas/Resenhas

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Edit 10/2014:  ignore o fato de que eu era um serzinho terrivelmente arrogante em 2011. e talvez eu ainda seja, mas agora eu tenho vergonha na cara pelo menos. ce pode achar o disco uma bosta, tá tudo bem (só não me fala isso pfvr <3)

Esse post era pra ter saído há muito tempo atrás. Considerando que ele é algo como o post “mais importante de todos os tempos deste blog” – COF – perdoe o fato de ele ser gigantesco. Te garanto que se você gosta tanto de música quanto eu, ele não estará chato. Desde o começo do blog, ele é uma promessa interna – ele se trata de uma resenha, uma análise ou, na verdade, de uma declaração de amor pública a um álbum. A motivação para escrever este post agora foi o fato de que eu comprei este álbum. Depois de muitos fucking anos atrás desta porra, eu o consegui por um preço justo, e aqui vão meus agradecimentos especiais ao Lucas Novaes, da Overload Records, que gentilmente reservou uma unidade pra mim. Comprei na barraquinha de merchandising no show da Anneke Van Giersbergen, ex-vocalista da banda sobre a qual este post se trata, o The Gathering.

OgAAAI6j8CpvJSZjRqpSGZfTFhIvkjhYhubXkTwQXWVLoFBWb58Oum08ja6tiLsmn-kIuhNQOUTiMZd8rvBle_Pi9i8Am1T1UKaWm9MWUZYoDVUkzLv7Kxnrg3vh Eu, neste show. Segurando o objeto de análise deste post.

A Propósito, se você ainda não conhece The Gathering, temos duas conclusões óbvias a seu respeito:

1 – Você está perdendo uma das melhores bandas de todos os tempos. E, infelizmente, uma das mais subestimadas também.
2 – Obviamente você não me conhece, já que é a minha banda favorita há anos e eu realmente os indico para qualquer vivente que me conheça um pouco. E que goste de música – o que, contrário ao que parece, não é tanta gente assim.

The Gathering run run run
Em um resumo preguiçoso: The Gathering é uma banda holandesa com uma história curiosa, cuja fundação data de 1989. Tendo iniciado-se na música dentro de gêneros obscuros do Heavy metal e com álbuns não tão inspirados, eles foram até 1994 seguindo como uma banda que você não vai querer ouvir. Eu ouço, mas você não vai querer ouvir, como 99% dos fãs da banda atualmente. É a parte que ninguém nem se lembra.
Tudo muda após 1994, quando eles resolvem chamar a moça referida acima, Anneke Van Giersbergen, e lançam um álbum chamado Mandylion (1995). Quebrando totalmente laços com o som anterior, aqui eles trazem um som característico de um movimento extremamente desprezado por quase todo o mundo, o chamado Gothic/Doom Metal: um estilo controverso e frequentemente cheio de porcarias terríveis – mas que revelou umas 3 bandas realmente boas que, em algum momento da carreira, acabaram fazendo sons bem mais multi-influenciados. Entretanto, sendo um dos primeiros álbuns do estilo, Mandylion trazia um som com algo de sofisticado e vários traços de experimentalismos. Mas o The Gathering ainda era um som pra pouca gente.

Isso até 1998. Quando surge “How To Measure a Planet?“, o álbum do qual se trata este post – e que rompe toda e qualquer barreira de estilo construída anteriormente. Aqui nós não temos mais heavy metal, não temos mais um estilo pra poucos, nós temos música grande. É a melhor forma que eu tenho pra definir: Grande música.

Daí em diante, eles se tornaram outra banda, com outra proposta de som e outro público-alvo. Na verdade, desde 1995 eles já tinham um a postura diferenciada, mas em 98 isso veio, de fato, à tona. E seguiram lançandos álbuns bons, alguns ótimos e um outro imperdível, chamado Souvenirs, que é o mais experimental da carreira, lançado em 2003. Mas não é sobre ele que o post se trata.
O The Gathering é uma banda com potencial de clássico. Eu não estou dizendo um clássico estilístico ou de um grupo de estilos musicais, eu estou falando de clássicos da música, como se tornou o Radiohead. Entretanto, o estigma dos estilos com os quais se envolveram (sem, na verdade, nunca diretamente o sê-los) sempre prejudicaram a sua imagem e causam um estúpido preconceito em pessoas que veem as tags absurdas computadas no last.fm ou a menção da banda ainda atrelada a um estilo ao qual nunca realmente pertenceram – e se pertenceram, foram tão maiores que quaisquer outras que nem dá pra comparar.
A banda terminou num limbo. Leve e experimental demais pra agradar qualquer fã de Heavy metal. Inovadora e original demais pra agradar qualquer fã de Gothic Metal. Sem apelo e tradição para agradar fãs de rock Progressivo. Sem hype para agradar indies e despretensiosa demais para agradar cults em geral. Poucas são as pessoas dispostas a quebrar paradigmas próprios do que devem ou não gostar para conhecer ‘bandas no limbo’. Aliás, me interesso por essas e aceito indicações.

É música para romper preconceitos, para ouvir sem se ater a comentários, a predefinições do que são por coisas que foram. Então, se você quer prosseguir, não abra o perfil do last.fm deles, não leia sobre eles (quer dizer, leia o que EU escrevi), baixe o álbum e ouça. Principalmente se você gosta de música experimental, rock progressivo, coisas psicodélicas e esse campo musical em geral. Até uma coisa de trip hop rola ali e aqui. Tudo isso fez com que eles se auto-intitulassem como uma banda de Trip Rock – rótulo mais do que adequado a proposta musical deles.

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Após essa grande introdução, eu te convido, primeiramente, a pensar no título do álbum, uma frase com infinitos significados, desdobramentos, interessante por si só. Como mensurar um planeta? Como medir o imensurável? Como ter noção do gigantesco? Quão grande é suficiente para nós? Como conhecer o desconhecido? Todo esse campo semântico, que nós traz mais do que um único significado, mas uma variante meio que inenarrável de idéias (meu deus, eu tô poético) é o mote central do álbum: algo que você não consegue exatamente definir ou descrever.
De forma bem simplista, li uma vez que a temática do álbum gira em torno de Distâncias. De vários tipos. Acho que resumir assim é limitado, mas se você é dado a sínteses (como eu, EMBORA EU ADMITA QUE NÃO PAREÇA QUANDO EU FAÇO POSTS HOMERICAMENTE ENORMES COMO ESTE) de significados, é uma boa palavra pra se ater: Distâncias. Mas você ainda pode falar considerar vastidão, viagens (de todos os tipos), imensidão. E outras.
Se você ainda não conhece o álbum, ia ser legal se você baixasse para ouvir enquanto lê abaixo. E se você conhece, também. Por isso clique na capa do álbum acima e encontre um facilitador de vidas chamado download no megaupload. Sim, estou me sentindo meio canalha ao contribuir com a pirataria para a minha banda favorita, mas a verdade é que ninguém compra um cd pra conhecer algo mesmo – ainda mais quando este não tem uma versão nacional em nenhuma loja. Mas te garanto que se tu curtir, vai curtir em excesso, o que de uma forma ou de outra vai te levar a querer comprá-lo mesmo.
How To Measure a Planet é um álbum que necessita de fones de ouvido. De boa qualidade.

Música a música, vamos começar

Nota: Estou com problemas para sair do mood desta música (Who Built The Road, Isobel Campbell & Mark Lanegan – Mark Lanegan merece um post, por sinal) para começar a ouvir o álbum, mas vamo se esforçar. A música é uma das mais bonitas que eu ouvi, e é bem simples.

Eu tenho o costume de gostar de faixas de abertura com impacto, fortes, que já comecem estourando tudo – talvez resquícios de quando eu era um fã exclusivo de Heavy Metal. Entretanto, mesmo Frail (You Might As Well be Me), a faixa de abertura do álbum, sendo uma das mais calmas, lentas e atmosféricas dentre todas, não vejo quaisquer outras dando início ao CD. Ela serve como um convite a alguns dos principais elementos que você encontrará durante a execução de todo o álbum: dedilhados distantes, ecos, camadas de som, bateria presente e uma performance absurda da vocalista – aliás, uma das melhores de todo o álbum. O Instrumental calmo, quase que relaxante, dá base pra que a anneke solte a voz em altura máxima.
Talvez por ser uma das músicas mais calmas e mais baseadas no vocal de todo o álbum, foi uma das que eu demorei bastante para gostar – mesmo sabendo que “baseado em vocal”, no caso do The Gathering, é um motivo pra gostar logo de cara.
Se tratando (eu acho) de uma música sobre entrega pessoal e sobre distância no relacionamento, nada melhor do que encerrar com você ouvindo um “i bleed for you, i voluntarily give myself”. A letra curta já é mais do que suficiente pra você acreditar que isso é verdade.

Great Ocean Road é uma das melhores músicas do mundo. Poucas vezes eu vi um instrumental que consegue representar exatamente a idéia da letra: vastidão. A música, mais do que uma grande contemplação às paisagens, aos horizontes, ao mundo, é um convite a ‘jump into the deep’, a conhecer o desconhecido, embarcar no que quer que seja. Vale lembrar que Great Ocean Road é o nome de uma rodovia costeira na Austrália, famosa por seu visual fora de série. Desde o riff inicial, as quebradas de ritmo, um certo swing, tudo te leva a querer pegar um carro e andar lá. A voz da anneke nesta música está mais alta, mais solta, mais despojada, combinando com o clima mais rock da música, uma das mais catch do álbum todo.
Por volta dos 04 minutos de execução, começa o ápice da música: um grande outro com um grande solo de guitarra, um solo lento, sem virtuosismo. Uma amiga minha disse uma vez que essa parte a dava vontade abrir os braços e sair por aí imitando um avião. O sentimento é mais ou menos esse mesmo – considerando que eu não vou sair por aí de braços abertos imitando um avião
Letra e música me parecem um grande hino a liberdade, mas sem panfletagem. Bastante recomendada quando você achar que a vida é pequena demais.

vic-great-ocean-road.jpg_2092326501A feíssima Great Ocean Road, Melbourne, Austrália

Eu acho uma coisa muito impressionante em algumas letras da Anneke (além de vocalista, ela é responsável por todas as letras do álbum) – ela consegue ser direta (nem sempre) sem ser piegas. Eu acho que essa música é sobre estar distante do mundo, de si mesmo, sobre precisar de alguém, de ajuda, de cuidado.
Rescue Me começa como numa versão mais intensa de Frail, com uma espécie de semirefrão (coisa inédita no álbum até agora) – que implora para ser resgatado – um pouco mais calcado nas guitarras. Não chega a ser uma música triste, mas sutilmente melancólica. E após a metade da música, mais um Outro (também acho esse nome esquisito – caso não saiba o que é, é uma parte sutilmente desconectada com o resto da música, geralmente após uma pausa, e calcada em alguma melodia específica) fenomenal: riffs intensos e sobrepostos e, pra completar uma das partes mais psicodélicas do álbum, um theremin, que é uma espécie de chiado, interferência, som espacial, não sei explicar.
E mais uma vez o refrão e fim.

O How to Measure a Planet? é um álbum definitvamente complicado. Até agora, 3 músicas quase nada grudentas, de longa duração, homogêneas (isso significa que têm o mesmo clima, a mesma pegada, mas passam longe da monotonia de serem iguais) e bastante quebradas, com boas influências de rock progressivo. My Electricity tá aí pra dar uma relaxada na complexidade do álbum e provar que isso é possível sem perder a mão e a coesão com o resto do álbum.
É uma música simples, uma voz (ok, uma puta voz) e violão bem trabalhado em estudio. A propósito, essa música é letra e melodia da Anneke – e refinada com a produção do resto da banda, que agregou o tom mais profundo e experimental condizente com o resto do álbum. É também uma das músicas mais doces do álbum – sendo que até hoje é uma das poucas que Anneke (hoje, em carreira solo – ela abandonou o The Gathering em 2007) ainda toca de sua antiga banda, já que condiz com a proposta musicalmente mais simplista que ela segue hoje.
Letra simples (parece uma contemplação de coisas pequenas, natureza, paz, o vento e o amor), Música curta, refrão fácil, agradável e pra qualquer momento. Se você não quer se esforçar muito pra gostar, comece por ela.

Liberty Bell é uma música meio rejeitada até por quem é fã do álbum. O que eu acho bastante injusto, já que a música não foge do clima do álbum, só o apresenta de forma diferente. É uma música mais animada, que foge do tom mais intimista e sóbrio do resto do álbum. Foi o primeiro e único single do álbum, que inclusive gerou um clip no mínimo… curioso.
É mais rápida do que o resto do álbum, tem guitarras mais sujas (mas em riffs meio que felizes) e um vocal mais simples e “jogado” por cima da música. Cheia de barulhos e chiados espaciais, letra e música são meio que uma brincadeira com um tem a inusitado, mas condizente com o resto do álbum: Viagens espaciais. Tema este que dá o tom da arte de capa e encarte.
É uma excelente música pra cantarolar junto, funciona MUITO bem ao vivo e também para você animar um dia que começou mal. E tá bem colocada no álbum, porque se o mundo é grande demais pra medir, nele não cabem só músicas melancólicas.

liberty_bell_1Vale lembrar que o Liberty Bell (Sino da Liberdade) é um dos principais símbolos da independência norte-americana e é considerado um dos principais símbolos de justiça e liberdade. Não consigo ver uma relação tão óbvia com a letra da música, mas que há uma ligãção entre os conceitos, isso há. Só não sei explicar exatamente.

Red is a Slow Colour inicia o que eu chamaria de a segunda parte do álbum (na verdade, a segunda parte do primeiro cd, já que é um álbum duplo) e, pra mim, a melhor. Com algumas adaptações, poderia ser uma música do Pink Floyd numa mistura da fase mais psicodélica (principalmente na letra) e da fase mais sóbria. Algumas mudanças rítmicas e muitas camadas de teclado dão o tom que o álbum seguirá daqui pra frente: um pouco mais soturno e intrincado, inclusive o vocal da anneke fica mais grave pra isso.
Red is a Slow Colour é um nome BEM curioso pra uma música – o que deve ter te feito perguntar-se sobre o que porras ela fala. Pois bem, a letra trata de um sonho. Desses sonhos que são incrivelmente reais e te fazerem experimentar sensações que você sabe que nem existem na vida real, e nem sabe descrevê-las direito depois de acordar. Na verdade, eu suponho isso, com certeza mesmo eu só sei que é, de fato, sobre um sonho. Mas eu não sei vocês, de vez em quando eu tenho uns sonhos que me fazem sentir coisas que eu nunca senti na vida real. Imagino que este sobre qual a música se trata seja assim – afinal, motivou ela a escrever uma letra só sobre ele. Imagino um sonho no qual ela se sentia perseguida, ameaçada por um ambiente vermelho, uma sombra vermelha, presa em algum lugar.
É o tipo de sonho que a gente acorda e pensa: o que porras isso significava?
Essa música é uma das mais complicadas do álbum, foi uma das últimas que eu gostei. O outro é fantástico, meio tenso, meio assustador, com cordas (ou simulação de, não sei). Daquelas passagens instrumentais pra viajar pra caralho, daquelas que você tem a impressão de que poderiam se repetir por mais 20 minutos e você não se incomodaria.

The Big Sleep é a música mais chapada do álbum, além de ser de longe a mais experimental de toda a carreira, competindo com algumas poucas de um outro álbum, o Souvenirs. É mais uma das que parece que não poderia ter outro nome, se não The Big Sleep. Parece a trilha sonora ideal pra ir caindo no sono aos poucos, ir apagando devagar, entrar em um outro estado de consciência (ou de inconsciência). É uma música que também não poderia ser de mais ninguém, se não do The Gathering. Eu sinceramente nunca ouvi nenhuma coisa parecida, tanto que não sei nem classificar o que seria essa música. A base é eletrônica, suave, são trocentas camadas de som, a bateria é orgânica, o trabalho com os vocais é cheio de ecos. Eu chamaria de Trip Music. Não é uma música de rock, e não é um trip-hop também. É algo original de verdade.
A letra chega a ter um pouco de desespero, o que dá um bom contraste com o tom lento e contido da melodia. É sobre querer sumir, entrar num sono profundo, escapar da realidade.
O que mais me atrai na música é que, mesmo com um instrumental minimialista, ela consegue “com pouco” construir um clima que leva a um ápice. A música toda parece uma introdução para o momento (próximo dos 04 minutos) em que a anneke faz seus “uhhhh” e a música evolui para uma sequência de ‘i’m dreaming”. Neste momento, o eu-lírico da letra parece que finalmente encontrou o seu tão aguardado sono.
Coloco essa música fácil num top 10 da banda e num top 20 da minha vida toda.

*fui almoçar e estou continuando este texto 3 horas depois*

Continuando o clima introspectivo e experimental da última música, Marooned é um pouco mais orgânica e um pouco mais direta, mas ainda assim dominam os elementos sintetizados e as várias camadas de som, dessa vez acompanhadas por uma percurssão bem peculiar. É, também, uma das poucas músicas do álbum todo com alguma parte que pode ser chamada de refrão – a propósito, um ótimo refrão. Som sintetizado de cordas, um chiado que parece algo sendo arranhado e “you don’t see me, cause i don’t have much to say” e temos um trecho completamente hipnótico. Sobre os chiados, um colega meu disse uma vez que parecia barulho de louça, xícaras, pratos, o que o fazia sentir a música como alguém sozinho, pensando, num café. É uma boa forma de “sensorizar” a música.
Assim como a música anterior, violões ou instrumentos de corda quaisquer fazem um papel bem sutil. É uma música mais centrada na percurssão, no vocal e nos teclados. É mais uma das músicas cuja temática parece combinar perfeitamente com a melodia: marooned trata de um momento de isolamento de todo o resto do mundo, um sentimento de não-pertencimento a alguma situação ou local. Por causa do trecho que fala de ciúmes, dá pra subentender que parece uma certa distância mental em um relacionamento, principalmente quando há “o hours and hours fo jealousy; are passing me by; Although hollow silence; is the only wave; going through your brain“. Entretanto, dá pra interpretar de outras formas, como apenas um isolamento mental do resto do mundo por se sentir diferente (“I know I’m from a lesser tribe; I suppose the range of my intelligence; is way too wide”).
Como você pode perceber, considero uma das (se não a) melhores letras do álbum – além de uma das músicas mais introspectivas que eu já ouvi.

Travel é foda, mas é tão foda, que ela parece até que sabia desde o começo que ia ser uma puta música muito foda – o começo dela apresenta uns chiados espaciais, uma máquina se ligando, quase um aviso de “aperte os cintos“. É o épico do álbum, com 9  fuckin’ minutos. Desde os dedilhados de abertura, algo que de tão bom e quase que transcendental eu compararia aquelas guitarras meio “havaianas” da abertura de Breathe, do Dark Side of The Moon (pink Floyd), até o final, com um ápice que realmente é definido muito bem pelo termo “épico”, Travel é uma grande viagem, e, o melhor, uma viagem lotada de feeling.
Nos 3 primeiros minutos, temos uma música que resume tudo que foi o álbum até agora – inclusive relendo uma melodia da great ocean road –  dedilhados distantes, anneke detonando, algumas guitarras mais pesadas, bateria marcante e teclados sutis que fazem uma diferença absurda. E um refrão bem intenso, que inclusive me lembra um pouco os refrões do primeiro álbum com a anneke, o mandylion.
Logo após isso, o clima fica mais denso, com teclados mais graves dando o tom, além de algumas incursões de guitarra (algumas das mais pesadas do álbum), com anneke cantando cada palavra como se fosse a última. Aos 4:30, o “i wish i knew you” anuncia a proximidade do ápice da música. Mais dedilhados (num clima meio faroeste, fim de filme), e os teclados simulando cordas – simulando bem PRA CACETE, por sinal – tornam a música mais e mais densa, soturna e, mais do que qualquer coisa, bonita. Aos 6:40, anneke começa aquele que seria, pelo menos pra mim, seu melhor momento na história. Com uma emoção que a gente realmente não vê em quase nenhum vocalista por aí, ela praticamente implora pra que alguém, alguma coisa, saiba o quanto foi e é importante pra ela. “I Wish you knew, your music was to stay forever” é uma das frases mais emblemáticas que eu já vi numa música – mais emblemática ainda, quando do último show da banda com a anneke, na finlândia, os fãs cantaram junto nesta frase enquanto apontavam pra ela – e ela obviamente chorou. É como se essa frase tivesse sido criada pra esse momento que, na verdade, ocorreu 10 anos depois. Não preciso dizer que é uma música bonita, mas extremamente triste, então nem ouça se seu humor já não estiver muito bem.
Sobre a letra… bom, este caso é especial.
Eu demorei pra pescar o sentido da letra sozinho. Com o tempo, entendi ser uma grande homenagem pra alguém, alguma coisa relacionada a música e criação. Mas eu não sabia quem – já tinha ouvido boatos, mas sem certeza. Então o que eu fiz?

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Sim, eu a conheci e conversei com ela após o show que ela fez em São Paulo recentemente (junho/10). E ela me respondeu (e como ela é atenciosa), “Oh, it’s about mozart“. E mais do que isso. Ela explicou que, naquele momento, o amor dela pela música do Mozart a fazia se sentir tão interessada na vida dele, e, como ela disse, sobre o que se passava “in his heart and in his mind” que ela se sentiu profundamente triste ao perceber que aquilo era impossível – conhecer aquele homem. E a música é, além de uma releitura de alguns fatos da vida dele, uma grande homenagem e uma declaração de admiração e uma exposição deste sentimento de impossibilidade.
Travel é a grande viagem que ela nunca poderá fazer até o encontro dos sentimentos do seu ídolo.
Se você não achou isso bonito, ou você não tem um coração dentro do peito ou você não gosta de música e nunca entenderá esse sentimento que ela tentou passar.

Aqui acaba o primeiro disco, e ele já seria mais que suficiente para tornar o álbum uma masterpiece completa. Mas não contentes, existe o disco dois. Não tão bom quanto o primeiro, mas ainda muito, muito foda. E eu to BEM CANSADO de escrever, e você está bem cansado de ler. Mas isso aqui não é uma resenha comercial e se eu quiser eu me estendo ab infinito.

South American Ghost Ride é a abertura do segundo cd e é instrumental – ou quase, já que ela cheia de uns ‘ah, ah, ah’ da anneke. É uma bela música para viajar e eu sempre associo com navegações, mares, barcos, eu não sei exatamente o porquê. Ela anuncia também um retorno às músicas mais simples. Eu gostaria de ter achado o que falam as curtas narrações iniciais, mas sinceramente não faço idéia. Pode bem ser mais alguma coisa relacionada a gravações de comunicações entre naves e bases especiais, que aparecem em outras músicas.
Um fato sobre esta música é que eu sei que ela foi composta no México, ou para o México – enfim, algo relacionado ao México. Entretanto, um lapso e eles esqueceram que o México faz parte da América Central, e não do Sul. Erro perdoável, eu nunca sei de olhar no mapa qual o nome de todos os países europeus.
Talvez seja a música mais emblemática no álbum para simbolizar o que eles queriam dizer ao se auto-intitularem como uma banda de Trip Rock. É basicamente os elementos musicais do rock combinados de forma a tornar a música mais ampla, distante e levemente mais chapada por causa do uso do theremin.

Illuminating é uma música bem mais simples que a média do álbum, talvez não só mais simples que My Electricity e Locked Away. É uma composição típica em cima da estrutura estrofe/refrão/estrofe, com estrofes calcadas em um instrumental mais simples, sem distorção, e um refrão mais alto, com guitarras mais pesadas. E com uma típica parada instrumental no meio da música.
Com uma linha de baixo marcante e bateria forte, mesmo assim é uma música um pouco apagada, mesmo que o clima etéreo, viajante e um pouco mais positivo do que o a maioria das outras músicas do álbum possam te cativar vez ou outra – é o tipo de música que cresce estando dentro do álbum, no contexto, mas fora dele não é grande coisa. A letra é uma clara referência a viagens estelares, como se o próprio eu-lírico estivesse experimentando a sensação da gravidade 0. Também há uma contemplação ao ser humano por ter ultrapassado a “barreira da camada de ozônio” e ter “chego às estrelas”. Iluminados são os seres humanos, que conseguiram isso. Talvez viajando um pouco mais, uma referência ao pensamento iluminista – ou um paralelo entre as idéias iluministas (inovação) e a idéia de ir visitar as estrelas. O The Gathering é cheio de referências históricas, não seria tão impossível isso.
Típíca musical, talvez a prima mais etérea e “trip rock” de Liberty Bell. É uma boa música pra ser trilha da sua apresentação de ensino médio sobre as estrelas de Júpiter haha

Algumas músicas do the gathering têm mais de uma versão – eles já lançaram alguns álbuns ao vivo (ótimos, e nada desnecessários) e também uma compilação de demos e versões alternativas. Algumas músicas, inclusive, são melhores nestas versões – caso de Locked Away, que eu gosto mais no álbum semiacústico ao vivo chamado Sleepy Buildings – um álbum bonito e simples, ótimo pra você ouvir no carro ou indicar pros seus pais. No acústico, a voz da anneke soa bem melhor e a simplicidade dos arranjos combina bem mais com a proposta da música.
Mas a versão de álbum também é ótima. Música simples e curta, mas não tão doce quanto My Electricity – e um pouco mais trabalha nas camadas de som. Gosto particularmente das guitarras próximas ao final.
O melhor de locked away está na letra – aparentemente bastante pessoal: sobre alguém que persegue alguém (um cônjuge, talvez), maltratando e “dominando” como forma de esconder problemas e inseguranças próprias. A distância de si mesmo. Como Illuminating, funciona melhor no contexto do álbum e nem tanto enquanto música isolada.

Assim como na música mencionada anteriormente, Probably Built in the Fifties também tem uma outra versão que me agrada mais – mas, mesmo assim, a versão do álbum é uma GRANDE música, uma das melhores do álbum.  A versão demo me agrada mais por causa de algumas melodias vocais, como a do refrão – bem mais empolgante na Demo. Mas me aterei a comentar a versão de álbum.
Então, é provavelmente a música mais “pesada” do álbum, a mais calcada em guitarras distorcidas e uma das que melhor funciona ao vivo, principalmente em shows mais rock oriented. Começa com uma bateria forte e sendo uma música arrastada. Mas logo entram as guitarras, que vão crescendo durante a música, e da metade pra frente, a música é uma avalanche – com algumas paradas atmosféricas, é claro – de vários riffs empolgantes – justamente a parte que funciona muito bem ao vivo, juntamente com o refrão, um simples “miles and miles I run”.
É uma música pesada mas não lembra o “peso metálico” das músicas antigas, é uma parada mais rock’n’roll mesmo. O final da música é um daqueles que eu gostaria que prolongasse por mais tempo  – justamente o que acontece na versão Demo, com quase 9 minutos. Entretanto, nessa versão a música parece mais ‘magra’ e um pouco menos enérgica. A grande diferença mesmo é o refrão – na versão demo, bem mais empolgante e energético.
Sobre a letra, eu sempre supus que a tal coisa construída nos anos 50 poderia ser um CARRO, até porque a música fala sobre uma road trip, um walkabout, um ano sabático, sobre correr o mundo em busca de si mesmo – e dá a impressão de que é um carro que já serviu de base pra muitas histórias do tipo. Essa letra tem um dos quotes mais legais da banda:

I trust the speed until i have no need to run anymore

Você confia na velocidade, no movimento, do não prender-se até que não precise mais correr, porque achou o seu lugar. Bacana.

30 minutos que você pode aproveitar inteiros se for paciente ou estiver no clima. 10 minutos que você DEVE aproveitar independente do resto. Isso é How to Measure a Planet?, a música instrumental de encerramento do álbum de mesmo nome.
Essa música é o ápice do feeling espacial deles – começa com longas narrações de radiotransmissão, com o instrumental mais viajado e mais rico em detalhes do álbum todo. Não há letra, entretanto, a música é permeada por vocalizações, como se a voz fosse apenas mais um instrumental musical, e não um instrumento para o canto.
A música se estende por seus até 5 minutos como uma ideal representante do conceito de “trip music” que eu citei em Marooned. Após esse tempo, com as guitarras aparecendo mais, eles chegam ao ápice do que apelidaram de trip rock – e não há mais absolutamente nada que descreva o som apresentado aqui.
E a música caminha por muitos minutos de riffs interessantes, vocalizações intensas, passagens lentas e outras mais vivas, viagens sintetizadas – O ápice se dá por volta dos 6 ou 7 minitos. Tudo isso nos 10 primeiros minutos, que resumem tudo o que é e foi o álbum até agora e todo o clima a que se propôs.
A partir do oitavo ou nono minuto, a música começa a se distanciar de você. E a partir daí você precisa decidir se está apto a continuar ou não. Li em algum lugar que essa música “descreve musicalmente” a sensação de se distanciar cada vez mais da Terra: é como se o começo fosse o início da viagem, a decolagem, o ápice, o sair da terra, e com o tempo ela vai entrando dentro do silêncio, do isolamento completo no espaço. Suficientemente lisérgico, não?

terra-vista-da-lua a lua é só o meio do caminho.

Até os 14 minutos, a música segue sendo mais ou menos uma música audível, comum, com os instrumentos funcionando, embora neste ponto ela já esteja bastante minimialista. A partir desse momento, segue uma vocalização chapada da anneke num looping que parece eterno. Você precisa de muita paciência para aturar isso, mas eu garanto que pode até funcionar dependendo do seu estado de consciência – esteja ele alterado artificialmente ou não.
Daí até o final, aos 30 minutos, ainda surgem locuções, chiados, algumas aparições de alguns instrumentos e melodias. Em um momento, até parece que a música vai “reengatar” uma estrutura comum, mas é pegadinha do malandro, próximo ao minuto 20. Mas depois disso, entra a fase lisérgico-terminal da música, o ápice da viagem, a loucura completa, uns sons altos que parecem saídos do i-doser mais próximo. Já lá aos 27, o volume vai abaixando em direção ao silêncio, ao fim da viagem. O espaço, o universo, negro, nada. Fim da música, fim do cd, fim de uma puta viagem.
Enfim, uma música que eu descreveria como Trip. Começa como uma Trip Music, passa pelo Trip Rock e termina como um exemplar de… como descrever melhor se não por Trip Noise. Recomendo que você encare os 10 primeiros minutos como uma música comum e que você ouça pelo menos UMA VEZ a música na íntegra. Com fones de ouvido.

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Destaques: O álbum todo. BRINKS. Great Ocean Road, The Big Sleep, Marooned e Travel são as músicas essenciais. Outros destaques são Probably Built in the Fifties, Os primeiros minutos da música-título e Red is a Slow Colour. Mas é um álbum pra você ouvir inteiro, do começo ao fim.

Fim deste post enorme, trabalhoso e demorado – que não será revisado por pura exaustão deste que vos escreve. Quem sabe um dia (não prometo nada) rola a mesma coisa pro Souvenirs.
Caso este post enorme tenha servido para alguém que não conhecia a banda se interessar pelo álbum, por favor me avise. Sentirei que minha missão na terra foi cumprida.

Porque você TEM que ver Six Feet Under

Publicado 02/05/2010 por hit map
Categorias: Críticas/Resenhas

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Eu estou planejando um texto sobre este assunto há tempos, mas creio que, agora que eu acabei de ver o Series Finale (pela segunda vez na vida, na verdade, mas agora a série parece fazer muito mais sentido), eu estou no momento certo. Deixo de antemão que pode ser que eu lance coisas parecidas com Spoilers durante o texto. Nada demais, mas pode ser que aconteça. Mas aviso também que saber spoilers de Six Feet Under não costuma tirar nem 1% do impacto de ver como determinado fato acontece e vê-lo em cena. Não é uma série sobre segredos e revelações. Aliás, o único mistério que acontece, da 3ª para a 4ª temporada, é revelado de forma tão natural e sem nenhuma expectativa que acaba não sendo impactante.

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O que é Six Feet Under?

Six Feet Under é uma série norte-americana produzida pelo canal de TV à cabo HBO, que costuma ser uma chancela de qualidade para séries. Ganhou um fôlego extra na popularidade ultimamente, já que o criador (Alan Ball, oscarizado pelo roteiro de Beleza Americana) é o mesmo da famosa e atual True Blood (vampirozzz) e um dos protagonistas é feito por um ator bastante em voga atualmente, Michael C. Hall, o Dexter. Foi exibida entre os anos de 2001 e 2005, e possui 5 temporadas, cada uma com 12 ou 13 episódios. São episódios grandes, com duração entre 45 e 55 minutos, sendo que season finales costumam ser maiores ainda. A série acumulou uma porrada de indicações de prêmios do começo ao fim, e ganhou alguns bem relevantes. Mas isso não importa, já que há premiações que dão título a coisas duvidosas. É difícil obter uma sinopse exata da série, mas basicamente é uma série dramática (com toques de humor negro) sobre uma família que se enraizou e cresceu em cima do negócio próprio que, no caso, é uma funerária. Um fato inesperado que ocorre já no primeiro capítulo faz com que esta família tenha que lidar com uma espécie de reunião e com a convivência, que, aparentemente, há um tempo não existe. Como marca principal, a série tem apresenta o fato de que sempre começa mostrando uma morte – fato este que pode ter uma pequena ou uma relevante participação nos eventos ocorrentes nas vidas dos personagens. Não é uma série que dá pra assistir episódios avulsos, já que apresenta uma história contínua e infinitamente mais complexa do que o que pode se supor por um ou dois episódios avulsos. Mas nada disso realmente interessa.

O que realmente interessa?
Interessa que Six Feet Under é muito mais que uma série de TV. É um retrato contundente e com um nível de fidelidade absurdo sobre pessoas – muito mais do que 99% dos filmes são, já que já começa tendo como vantagem a duração de umas 50 horas. E, portanto, sobre a vida. E, como tudo aquilo que reflete sobre a vida, reflete também sobre a morte. É uma série que simplesmente não te ensina nada, não te passa absolutamente nenhuma mensagem sobre o que a vida deve ser. Mas sim, te mostra tudo (ou quase) do que a vida é. Às vezes a série te diz que você deve aproveitar a vida, porque ela é curta. Como uma frase tosca de mensagem do dia do Orkut. No mesmo episódio, ela pode te dizer que a vida não é nada disso. A vida é aquilo que você deixa pros outros. E, numa série de paradoxos, como é a própria vida, a série te incita a pensar. E pensar não-conclusivamente. Você não vai chegar a uma conclusão sobre nada. E isso é foda, porque nos incomoda tanto, justamente porque é uma verdade absoluta: a vida é completamente inconclusiva. E tem uma série de coisas incompreensíveis.

É quase uma tarefa estressante tentar convencer alguém a ver a série. Porque não há muito o que dizer, não há cenas ou pontos isolados que a façam parecer interessante. A série é ótima porque é sinérgica: todos os inúmeros elementos, discussões, tramas e subtramas se unem e formam um todo extremamente mais poderoso (e isso acontece durante todas as temporadas, é uma série extremamente constante no nível de qualidade). É uma série que fala demais de relacionamentos, mas não é uma série sobre isso. Fala muito sobre gays, mas também não é uma série gay. Fala sobre traição, sobre criação, sobre família, sobre fé, sobre violência, sobre arte. Mas não é uma série sobre nada disso.

Eu acho que a melhor forma de definir a série é o que um colega meu me disse. Eu o indiquei a série e o incentivei a vê-la. Ele viu e se interessou, mas aquilo que eu o dizia (mano, é muito foda!) não parecia fazer sentido. Não era tudo isso. E com o tempo ele foi mudando de idéia e comentando cada vez mais a respeito. Aliás, isso aconteceu com dois amigos. E cada vez ele foi concordando mais de que a série não é nada além de incrível. Porque é tudo tão real e, por mais que soe loucura em algumas partes, tão normal, que demora pra aquilo encantar. Não é como, sei lá, um mundo paralelo, não é como ficção, nada ali é fora do ambiente do dia-a-dia. E talvez a vida não seja encantadora. Além do que, os personagens demoram a se tornar pessoas. No começo, elas parecem alegorias, clichês e problemas específicos encarnados em alguém. E, com o tempo, você as vai vendo como pessoas. Como pessoas perfeitamente plausíveis. E acompanhar a vida deles torna-se um hábito como o de ver uma novela. Como a sua tia faz.

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Não ESSE tipo de novela

Simplesmente você sabe que eles não serão felizes para sempre no final.  Você sabe que eles podem ser uns canalhas a qualquer momento. E pessoas incríveis no outro. Você os vê sendo egoístas, e não importa se o personagem é o protagonista. Se alguma coisa ameaçar a vida deles, você fica tenso porque eles podem SIM morrer – ao contrário da mocinha da novela que VAI sobreviver não importando se um meteoro caiu na testa dela. Nada é óbvio.
Eu já pensei em milhões de definições centrais pra série e, não adianta, nenhuma é completa o suficiente. Esse texto mesmo ainda está superficial. Talvez o foco da série mude dependendo do personagem. Pode ser uma série sobre o processo de aceitação do fim e da morte (e aqui eu confesso que foi o ponto que sempre pegou pra mim), pode ser uma grande cartilha que ensine as pessoas que, sei lá, veem filmes demais do ashton kutcher que estar apaixonado e com um bom relacionamento não tem nada a ver com estar feliz – e que amar alguém também não se signfiica estar apto a relacionar-se com ela. Pode ser uma série sobre o fato de que tudo se vai e alguma hora pode acabar voltando.  Uma série sobre estar, na verdade, sempre sozinho. Sobre identificar e aceitar a sua parcela de egoísmo, e perceber que isso é humano. Sobre surtar diversas vezes e ainda ser perfeitamente comum e ordinário.
Como eu vou definir algo que simplesmente é sobre a vida e a morte? Duas coisas que ninguém consegue definir.

Só sei que acho genial perceber algumas coisas tão reais que dá vontade de mostrar pras pessoas e dizer “olha, não só eu que sinto isso, porra!”. A série acaba te familiarizando com o seu próprio lado solitário. É quase uma terapia, é uma ferramenta de auto-conhecimento. SIM, EU SOU UM PAGA PAU, DEIXA EU, PORRA!

Seja quando você se vê constantemente “preso”, como o Nate. Seja quando você acha que tem direito a uma vida particular, como a Claire. Seja quando você sente que tudo está sempre escapando das suas mãos, como a Ruth. Seja quando você simplesmente não consegue conter a vontade de fudida de trepar com alguém, não importanto todo o resto, como a Brenda. Seja quando você enlouquece e ainda assim não tem culpa disso, como o Billy. Ou então quando você só quer sair espancando todo o mundo, como o Keith. Você VAI se ver nesses personagens, em mais de um deles e em mais de uma vez.

Acho que o mundo seria mais interessante se tivessem menos pessoas vendo House e aquela ironia e profundidade humana extremamente plástica (e achando aquilo buuuniiito) e mais pessoas que vissem Six Feet Under, com a Claire dizendo que odeia todos e todo mundo e que não aguenta mais isso, ‘cause that sucks.

Enfim, isso é tudo que eu consigo dizer sobre a série antes que isso aqui vire artigo científico. Ainda sinto que não cheguei no 10% do que eu gostaria de dizer. E isso sempre acontece.
Enfim, veja a série, acompanhe a excelente trilha sonora, veja atores fudidos atuando, tenha vontade de ver a abertura boa pra caralho toda vez que vai ver um novo episódio e chore por, sei lá, uma meia hora no series finale.

Se você precisa de um exemplo sensorial que te convença, veja algum dos trailers promocionais (o 3 e o 4 são os melhores) das temporadas pra perceber que o cuidado que os produtores tinham com tudo relacionado a série só podia denunciar algo incomumente bom.

Enfim, vi pouquíssimas séries completas na vida e ainda assim já sei que provavelmente não existe uma melhor. Assim quando você conhece alguém, se apaixona e tem certeza de que não deve haver alguem mais foda. É plausível, não é?

Six Feet Under, 2001-2005.